“Diante do ocorrido, o governo brasileiro torna a condenar o aprofundamento da repressão, o uso desproporcional e letal da força e o emprego de grupos paramilitares em operações coordenadas pelas equipes de segurança” – Itamaraty. O assassinato ocorre em meio a uma crise sociopolítica com manifestações contra o presidente Daniel Ortega. A repressão governamental aos protestos já deixou entre 277 e 351 mortos, de acordo com organizações humanitárias locais e internacionais. “As forças paramilitares sentem que têm carta branca, ninguém vai dizer nada a eles, ninguém vai fazer nada, eles andam sequestrando e fazendo batidas”, denunciou o reitor, de acordo com a agência EFE.
Crise na Nicarágua
O assassinato da estudante brasileira ocorreu horas depois de o reitor da UAM participar de um fórum no qual disse que o crescimento econômico e a segurança na Nicarágua antes da explosão dos protestos contra Ortega em abril “era parte de uma farsa”, porque “nunca houve um plano que acabasse com a pobreza e a injustiça”. “A morte desta moça é um sinal do que está acontecendo na Nicarágua, contradiz o que Ortega disse (em entrevista à “Fox News”), que tudo está normal, mas é uma paz de mentira, há paramilitares por todos lados”, argumentou o reitor. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnudh) responsabilizaram o governo da Nicarágua por “assassinatos, execuções extrajudiciais, maus-tratos, possíveis atos de tortura e prisões arbitrárias”. A Nicarágua está imersa na crise mais sangrenta da história do país em tempos de paz e a mais forte desde a década de 80, quando Ortega também foi presidente (1985-1990).
De acordo com o reitor, o assassinato ocorreu em uma região ao sul da capital nicaraguense. Em sua entrevista para a televisão local, ele diz que os paramilitares responsáveis pelo assassinato estavam na casa de Francisco López, tesoureiro do partido governante, a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN). “É preciso dizer isso, paramilitares que estavam na casa de Chico (Francisco) López foram os que dispararam”, disse o reitor. De acordo com a agência EFE, até pouco tempo atrás Chico Lopez era gerente de duas grandes empresas estatais relacionadas com o petróleo e o setor construção, mas ele foi afetado pelo Global Magnitsky Act, dos Estados Unidos, que o acusou de graves violações aos direitos humanos.
Estudante relatou perigo na Nicarágua
Mãe de Rayneia, a aposentada Maria Costa afirma ter falado pela última vez com a filha na manhã da segunda (23). “Ela me disse que estava indo para o plantão e me dizia sempre que lá estava muito perigoso, que ninguém estava saindo na rua. Hoje de manhã o ex-sogro me ligou dizendo o que tinha acontecido”, contou ao G1. No país desde 2013, a brasileira se preparava para voltar ao Brasil em 2019, segundo a mãe. “Ela tinha acabado a faculdade e estava fazendo residência. Estava indo para o plantão quando falou comigo, era uma moça estudiosa e esforçada”, lamenta a mãe. “Tiraram da rua o carro em que ela estava quando foi baleada. Eu quero que quem matou a minha filha seja punido. Seja o presidente, seja quem for”, afirma a mãe. Pai de Rayneia, o motorista Ridevando Pereira não mantinha tanto contato com a filha, mas sabia e aguardava a possível vinda da estudante para o Brasil em 2019. “Ela estava lá somente para estudar. Era uma menina muito estudiosa e estava terminando os estudos para voltar”, conta.
Governo brasileiro cobra esclarecimentos
Veja a íntegra da nota do Itamraty: “O governo brasileiro recebeu com profunda indignação e condena a trágica morte ontem, 23 de julho, da cidadã brasileira Raynéia Gabrielle Lima, estudante de Medicina na Universidade Americana em Manágua, atingida por disparos em circunstâncias sobre as quais está buscando esclarecimentos junto ao governo nicaraguense. Neste momento difícil, estende sua solidariedade e expressa suas mais sentidas condolências à família da jovem. Diante do ocorrido, o governo brasileiro torna a condenar o aprofundamento da repressão, o uso desproporcional e letal da força e o emprego de grupos paramilitares em operações coordenadas pelas equipes de segurança, conforme constatado pelo Mecanismo Especial de Seguimento para a Nicarágua instalado para implementar as recomendações da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Ao repudiar a perseguição de manifestantes, estudantes e defensores dos direitos humanos, o governo brasileiro volta a instar o governo da Nicarágua a garantir o exercício dos direitos individuais e das liberdades públicas. O governo brasileiro exorta as autoridades nicaraguenses a envidarem todos os esforços necessários para identificar e punir os responsáveis pelo ato criminoso.”