Feijão e farinha são os alimentos mais prejudicados com a estiagem
“Minha filha, quando você for dar uma notícia dessas a uma pessoa de
idade, fale devagar, pra pessoa não infartar”. A dona de casa, que
pediu para não se identificar, se referia ao preço do quilo do feijão
mulatinho num dos boxes da Ceasa: o valor aumentou de R$ 6 para R$ 10,
nos últimos dois meses. Por causa da seca que atinge os principais
municípios produtores de feijão do estado, o alimento foi o que
registrou a maior alta entre março e abril (64,83% o carioca e 41,5% o
mulatinho).
Além dele, outros itens da cesta básica do baiano também foram afetados
por causa da estiagem. A farinha foi uma delas. “A que era R$ 2 foi pra
R$ 2,50 e a que era R$ 2,50 agora está por R$ 3”, diz Marcos Reis, dono
de um dos estandes da Feira de São Joaquim. O aumento chegou a 25%. A
farinha de seu Marcos vem principalmente de Nazaré das Farinhas e Santo
Antônio de Jesus.
As duas cidades não foram afetadas diretamente pela estiagem mas,
segundo a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), a cultura
de mandioca atinge os 417 municípios baianos, o que inclui os 266 em
estado de emergência.
Com a produção reduzida, a oferta do produto caiu, o que fez os preços
subirem. Na barraca de seu Marcos, o feijão carioquinha, que custava
R$ 3,50 o quilo, agora é R$ 5,50. Se os clientes estão reclamando? “O
povo só não reclama do preço da cerveja, moça. Mas levam do mesmo jeito.
Não vão deixar de comer, né?”, diz, com a sabedoria de quem trabalha na
feira há 52 anos.
“Eu não tenho nem coragem de reclamar. Estou acompanhando o noticiário e
sei como está a situação”, conforma-se a baiana de acarajé Rose
Ferreira. “Pelo menos os ingredientes do acarajé ainda não subiram”.
Outros produtos
Os ingredientes do acarajé não, mas outros produtos da cesta básica do
baiano sim. Foi o caso do aipim, do carimã, da soja e do milho, embora
em proporções menores. “Também tem o maxixe, que para conseguir uma
caixa, virou leilão. O jiló também está uma dificuldade e as bananas
estão tão mirradinhas que dão pena”, diz a comerciante Débora, da Feira
de São Joaquim.
“O povo vê o preço e diz que a gente está roubando. A gente explica como
está a situação, mas eles não entendem”, reclama. Na barraca de
Débora, o aipim subiu de R$ 2,50 para R$ 3,50 e o carimã de R$ 1,50 para
R$ 2.
Já o comerciante da Ceasa Uemerson Cruz conta que seu maior problema foi
com a castanha. “A gente comprava de Irecê, mas agora está tendo que
trazer de Sergipe”, conta, acrescentando que o preço da saca subiu de R$
20 para R$ 30 nos últimos dois meses. O beiju vendido no estande não
pode mais ser comprado por R$ 2,80. “Agora custa R$ 3,50”, diz o
vendedor.
A comerciante vizinha era uma das poucas que, no meio desta semana,
ainda vendia o quilo do feijão mulatinho a R$ 9. “É que ainda não
comprei saca nova. Sei que subiu de R$ 380 para R$ 440”, diz dona Lelita
Lima, que ainda arrisca uma previsão pouco animadora para os
consumidores. “Esse preço ainda tem muito o que subir. Daqui a pouco
chega a R$ 12”.
No supermercado Bompreço do Canela, a situação não foi muito diferente.
Com farinha a R$ 3,62 e feijão carioquinha em torno dos R$ 6 (veja boxe
ao lado), os clientes reclamam. “Ia comprar mais feijão, mas não deu
porque o preço está muito alto”, observou a diarista Jeilda Reis. “Está
difícil de achar uma verdura boa e as frutas estão todas murchas”,
completou a atriz Nivalda Araújo.
Fonte: Correio