
Depois de quase cinco décadas no País, em setembro deste ano a Sony decidiu encerrar as atividades da unidade na Zona Franca. Nessa fábrica eram produzidos televisores, entre outros eletrônicos. Essa unidade chegou a ser considerada uma das melhores fábricas da empresa no mundo. Procurada, a Sony confirma a venda dos ativos de Manaus e ressalta que o negócio deverá ser submetido à “devida anuência dos órgãos competentes”. Como a unidade está em Manaus, a transação precisa passar pelo crivo da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa).
Giovanni Marins Cardoso, sócio fundador da Mondial, conta que a companhia já tinha planos de começar a produzir micro-ondas em 2022, aparelho de ar condicionado em 2023 e televisores em 2024. Para isso, estava procurando um terreno para instalar uma fábrica maior em Manaus. Desde 2014 a empresa tem uma pequena unidade na Zona Franca, onde são produzidos DVDs, caixas de som acústicas de média e alta potência, boombox e outros produtos da linha de áudio e vídeo.
Com a compra da fábrica, o executivo quer dobrar a capacidade de produção das linhas de áudio e vídeo que já faz em Manaus, especialmente caixas de som, e acelerar a estreia na fabricação de itens que são os pesos pesados das linhas marrom e branca, como TVs, aparelhos de ar condicionado e forno de micro-ondas. “Vamos fazer em seis meses o que estava previsto para três anos”, afirma.
A fábrica começará a ser operada pela Mondial a partir de 1º de fevereiro. Segundo Cardoso, o negócio não envolveu os cerca de 200 trabalhadores da Sony alocados nessa unidade. O executivo explica que os funcionários serão desligados pela Sony e poderão se candidatar ao processo de seleção que a Mondial vai abrir para recrutar 200 trabalhadores. “Não fechamos acordo com a Sony para manter os quadros.”
Além desse processo inicial de seleção, a companhia pretende abrir mais 200 vagas no segundo semestre de 2021 para a nova fábrica, por conta da expansão das linhas de produção. Na fábrica atual da Mondial em Manaus, há 240 trabalhadores.

Disputa
A estreia de uma empresa brasileira de eletroportáteis nas linhas de TV, forno de micro-ondas e aparelhos de ar condicionado, dominadas por grandes multinacionais, promete ser uma briga boa. Cardoso lembra que, quando iniciou a companhia do zero, 20 anos atrás, as multinacionais dominavam o mercado de eletroportáteis. Hoje a companhia lidera com 36% do mercado de batedeiras e liquidificadores, entre outros eletroportáteis, e deve fechar o ano com quase R$ 3 bilhões de faturamento. “Acho que a empresa nacional tem vantagens em relação às multinacionais, pois está mais conectada com o mercado local e as decisões são mais rápidas.”
José Jorge do Nascimento, presidente da Eletros, que reúne os fabricantes de eletroeletrônicos, considera o movimento da Mondial positivo. Para ele, isso mostra que, mesmo num momento de crise da economia, os investimentos estão acontecendo.
Ele lembra que é a segunda vez neste ano que a empresa faz uma grande aposta. Em maio, anunciou investimentos de R$ 47 milhões para ampliar a capacidade de produção da fábrica da Bahia e nacionalizar produtos importados. “Isso mostra que uma empresa brasileira é capaz de concorrer em outros setores onde há grandes players mundiais.” Ele lembra que essa trajetória, dos eletroportáteis para a produção de TVs, já foi feita também por outra brasileira, a Philco Britânia.