De acordo com o coordenador das Arbovirores da Diretoria de Vigilância Epidemiológica da Sesab, Gabriel Muricy, o aumento de casos de dengue na Bahia já era esperado por conta das altas temperaturas do Verão e das chuvas, que fazem aumentar os pontos com água parada.
Em relação a Feira de Santana, ele acredita que “possa ser que haja problemas com relação à Vigilância (Epdemiológica local), a forma de atuação e a quantidade de agentes. Certo é que não são só os governos municipal ou estadual que devem fazer o combate ao mosquito Aedes aegypti, mas toda a sociedade”, comentou.
Em Feira, a primeira vítima do ano foi uma jovem de 18 anos que morreu no dia 29 de janeiro. Outro caso suspeito de morte por dengue hemorrágica na Bahia está em investigação: uma idosa de Conceição do Jacuípe.
Ações
A Secretaria Municipal da Saúde de Feira de Santana (SMS) disse que a Vigilância Epidemiológica vem intensificando as ações contra o mosquito Aedes aegypti.
A Sesab também informou que enviou 370 kits completos para agentes, distribuiu 11 mil frascos de repelentes, além de usar o fumacê.
A cidade conta com 400 agentes de endemias que atuam em todas as comunidades. Para contratar mais, seria necessário decretar estado de emergência, afirma a supervisora da Vigilância Epidemiológica Municipal, Neuza Santos de Jesus Silva. Na cidade, segundo ela, a procura por atendimentos para dengue dobrou na maioria dos 130 postos de saúde.
Os casos mais graves estão sendo nos distritos de Matinha (153 notificações até anteontem), Maria Quitéria (91) e Humildes (34), e nos bairros Conjunto Viveiros (66), Gabriela (22), Tomba (36), Feira X (29), Brasília (22) e Sítio Matias (18).
Apesar de ser a única cidade em surto, Feira não aparece entre as dez cidades com maior incidência de dengue no estado este ano (veja lista abaixo). O Coeficiente de Incidência (CI) leva em conta o número de casos suspeitos e a população da cidade.
No ano passado, no estado, foram notificados 9.596 casos suspeitos de dengue, com CI de 63,12 para cada 100 mil habitantes.
Segundo a Sesab, quando o CI é de a partir de 100 casos por cada 100 mil moradores já é considerado estado de alerta. Em toda a Bahia, 74 dos 417 municípios estão em risco de epidemia de dengue por outro índice - o de infestação predial, acima de 4%.
Professor de Medicina da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), o infectologista Antônio Bandeira afirma que uma série de fatores, somados, expõem Feira de Santana às arboviroses. Em 2014, a cidade foi a primeira a registrar um caso de chikungunya e também uma das que mais sofreu com a doença.
Segundo Bandeira, o fato de o município estar em uma área de entroncamento, com várias rodovias federais próximas, a circulação de pessoas é muito grande. E muitas podem estar infectadas.
“Também temos um problema na cidade que é a grande proliferação de mosquitos que podem ser hospedeiros. Um mosquito dá uma picada em um pessoa infectada e já é mais do que suficiente para atingir diversas outras”, explica.
O pesquisador Gúbio Soares, do Laboratório de Virologia da Universidade Federal da Bahia, afirma que há um descuido e descaso da sociedade com arboviroses.
Apesar de a Sesab confirmar o surto em Feira, o titular da pasta, Fábio Villas Boas, classifica a situação da cidade como um aumento natural decorrente do verão. Ele diz que a grande preocupação é com os casos que evoluem para a dengue do tipo 2, ou dengue hemorrágica.
“É preciso que as unidades de saúde fiquem bastante atentas a [pacientes com] sinais de queda de plaqueta e sangramento, e que transfiram imediatamente para centros hospitalares capazes de tratar essas complicações”, orienta.
Fonte: Correio