Das 34 barragens de rejeitos de mineração na Bahia registradas junto à Agência Nacional de Mineração (ANM), as de Jacobina, de minério de ouro, causariam mais estragos, em caso de rompimento. Não há sirenes na cidade nem outra forma de aviso para evacuação.
Presidente da Associação de Moradores do bairro de Nazaré, Magno diz “Ninguém pensa em sair daqui por conta de barragem, não. Ouvi no rádio a empresa falando que estava tudo em ordem e que a barragem está monitorada. Eles acalmaram o pessoal, mas a gente não deixa de ficar preocupado”, diz.
Em cidades como Jacobina, as notícias sobre a tragédia em Brumadinho, em Minas Gerais, não provocam apenas consternação. A cada atualização sobre o rompimento da barragem, que deixou pelo menos 100 mortos e 279 desaparecidos, mais temor.
Jacobina tem duas barragens de rejeitos de mineração, assim como a que rompeu em Brumadinho. Em todo o estado, são pelo menos 34, de acordo com a última lista publicada pela Agência Nacional de Mineração (ANM), divulgada este mês. No levantamento, há 33 estruturas localizadas. Além delas, existe, em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), uma barragem para rejeitos da extração de manganês.
Só que as de Jacobina seriam as mais preocupantes delas – justamente por serem parecidas com a de Brumadinho, localizadas em regiões mais altas, o que torna a queda do material mais violenta do que se fosse em um terreno plano.
Além disso, há outra semelhança. De acordo com o engenheiro de minas José Baptista de Oliveira Júnior, professor da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Jacobina e Brumadinho têm em comum o fato de terem barragens construídas com os próprios rejeitos.
“Além disso, a jusante (o lado em direção à foz) da de Jacobina está em um vale muito grande e ainda há muitas pessoas que moram lá, apesar da empresa ter comprado terrenos e casas e indenizado esse pessoal para morar em outro lugar, exatamente com a preocupação com a possibilidade de romper. Mas nem todo mundo saiu”, explica o professor, em entrevista ao CORREIO.
Embora existam semelhanças, as barragens também apresentam diferenças significativas. A de Brumadinho é feita com alteamento a montante, enquanto as de Jacobina têm alteamento a jusante. O alteamento a montante é o método mais antigo e que ainda é o mais comum. Nesse sistema, a barragem vai crescendo - com os próprios rejeitos - aos poucos. É mais barata e mais rápida para ser construída, mas é bem mais instável. Há, ainda, a possibilidade de liquefação.
Já a de Jacobina exige mais material de construção para erguer uma parede de contenção. É um método mais seguro, mais resistente a atividades sísmicas, mas é mais caro, devido à quantidade de material necessário.
Mesmo assim, a maioria das barragens de rejeitos da Bahia é considerada mais segura do que as de Jacobina, segundo o professor José Baptista de Oliveira Júnior. Isso porque a maior parte delas foi erguida com outro método construtivo: são barragens de contenção de rejeitos. É o caso da de Itagibá, no Sul do estado. Os riscos, porém, sempre vão existir.
“Na Bahia, não temos motivo para pânico. Não posso botar a mão no fogo por ninguém. Agora, dentro do que nós conhecemos, dentro dos tipos de barragem, é mais difícil acontecer rompimento. Mas não quer dizer que não possa acontecer”, pondera.
O gerente geral da mineradora Yamana Golden em Jacobina, Sandro Magalhães, afastou o risco de um acidente. A empresa informou, por meio de nota, que a barragem B1 está inativa desde 2011 e a B2, ativa desde 2011, atualmente utiliza 24% de sua capacidade total.
O prefeito Luciano Pinheiro destacou que o município deve investir R$ 1,5 milhão para instalar sirenes para evacuação, em caso de risco.
Na Bahia, há precedentes de rompimento de barragens de água. Em maio de 1985, a Barragem Santa Helena, em Camaçari, rompeu após seguidos dias de chuva. O governo do estado vinha retirando os moradores do local, mas, ainda assim, pelo menos 100 famílias tiveram suas casas atingidas e cerca de cinco mil ficaram desabrigadas.
Fonte: Correio