Desde criança, segundo ela, Wandré ouvia dos irmãos por parte de pai que ele era filho ‘bastardo’ devido às características físicas diferentes. Os irmãos diziam que ele não era filho do mesmo pai e que eles eram mais brancos. A dúvida foi alimentada no rapaz até os 15 anos, quando pediu à Gislene que fosse feito um exame de DNA para comprovar que os irmãos estavam errados. “Aos 15 anos, ele chegou da escola e perguntou quanto custava para fazer um exame de DNA. Ele dizia que queria mostrar para os irmãos que era realmente filho do pai dele”, recordou a mãe. Gislene diz que não tinha dúvidas da paternidade e se prontificou a fazer o exame a pedido do filho, que seria fruto do relacionamento de curta duração com o advogado Sival Pohl Moreira. Wandré passou a maior parte do tempo com o pai, apesar de sempre visitar a mãe.
No entanto, ao contrário do que mãe e filho imaginavam, veio o resultado surpreendente: o então adolescente não era filho do advogado e nem dela. “Eu fiquei em prantos. Na hora passou muita coisa na minha cabeça, pensava que a criança precisava de mim. Na época, não quis expor, mas hoje fiz a postagem para tentar uma solução”, afirmou. A família fez dois testes de DNA para ter certeza do que estavam para enfrentar. “Na época foi como se eu tivesse sido atingida por um ‘Tsunami’. Fiquei com medo de perder meu filho”, lembrou. Tem oito anos que a família vive uma busca incessante para tentar descobrir quem são os pais verdadeiros do jovem e quem é o filho ou a filha de Gislene. Desde 2010, eles fazem exames e procuram famílias que possam estar com o filho de Gislene.
O período de pesquisa então foi ampliado depois que a polícia soube que as pacientes ficavam três dias internadas no hospital após o parto. Passaram a ser identificadas outras pessoas, nascidas nos dias 12 e 14 de fevereiro daquele ano. Essas pessoas ainda devem ser submetidas a exames com as respectivas genitoras. A Santa Casa de Misericórdia de Rondonópolis emitiu uma nota alegando que, logo após o parto, os bebês recebem uma pulseira de identificação, que somente é retirada na saída da maternidade após a alta médica. Afirmou ainda que não se pode descartar a hipótese da criança ter sido trocada após a saída da maternidade, pois a criança nasceu no dia 13 de fevereiro de 1995 e teve o registro de nascimento feito em 12 de agosto de 1996.
Amor de mãe e filho
Gislene fez a postagem sem que o filho soubesse. O rapaz, que trabalha como operador de empilhadeira e já é pai de um menino de 3 anos, reagiu de uma forma surpreendente, conforme avaliação da mãe e ficou feliz com a repercussão positiva. “Eu falo para ele: não é um papel que vai mudar o meu amor por você. Hoje temos um cuidado e um amor maior pelo outro. O respeito e o carinho mudaram e estamos mais próximos. Nossa relação melhorou”, comemorou a mãe. Somente os familiares mais próximos – como tias e avós – sabiam que Wandré não era filho biológico do casal. A notícia, junto com a postagem, surpreendeu os 14 irmãos – por parte de pai e mãe – que o rapaz tem. “Hoje ele diz que quer conhecer os pais biológicos e saber qual seria a história dele. Para ele, querendo ou não, ele viveu a vida de outra pessoa. Meu filho quer saber se tem outros irmãos e quem são os pais dele”, pontuou.
Busca pelo filho biológico
Depois do relacionamento com o pai de Wandré, Gislene se casou e teve outros filhos. Desde a descoberta, Gislene faz exames de DNA e entra em contato com jovens que nasceram na mesma ocasião que Wandré. A família também entrou com um processo contra o hospital. À parte, a polícia tem uma investigação para encontrar a criança – hoje um jovem – que foi trocada no lugar de Wandré. No total, quatro crianças fizeram exames que deram negativo. A investigação listou crianças que nasceram entre os dias 10 e 16 de fevereiro de 1995 na Santa Casa de Rondonópolis. Seis pessoas ainda farão o exame para verificar se algum deles é o filho biológico de Gislene. Das crianças que nasceram nesse mesmo período, outras seis morreram. No entanto, por enquanto, os exames serão feitos somente nos que estão vivos. Entre os vivos que devem fazer DNA, um mora em Cuiabá, dois em Rondonópolis, um em Rondônia e um em Mato Grosso do Sul. “Futuramente eu quero conviver com os dois. Sei que não tem como trocar, mas eu quero sentar com eles e almoçar todo mundo junto. Eu falei para o meu filho: ‘Deus queria muito que você fosse meu. Ele não saiu do meu ventre, mas veio dessa forma maluca e Ele me deu”, finalizou a mãe.
Fonte: G1-MT