O designer Alexandre Beanes, casado com Caroline Almeida, que tem a mesma profissão, mas um peso saudável, é exemplo de um quadro revelado pela pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), divulgada pelo Ministério da Saúde nesta terça-feira (10). Segundo a pesquisa, entre os homens, quanto maior o nível de escolaridade, maiores são os índices de obesidade e excesso de peso. Entre as mulheres, quanto maior o nível de estudo, menores as taxas de sobrepeso.
Há alguns anos, Beanes pesava 121 quilos. Insatisfeito, ele procurou um endocrinologista. Deu certo. Conseguiu reduzir o peso para 76 kg. As festas do verão deste ano, sempre uma garantia de fartura de comida, levaram Alexandre para os 94 kg, 18 a mais do que o indicado para sua altura.
Entre os homens com oito anos de escolaridade ou menos, 51% têm excesso de peso. O número salta para 60% quando a escolaridade aumenta para 12 anos ou mais. O índice de obesidade sobe um pouco, de 16% para quem tem oito anos ou menos de estudo para 17% para quem foi à escola por ao menos 12 anos.
Nas mulheres, o movimento é oposto: 52% das que tem oito anos ou menos de escolaridade estão acima do peso e 20% são consideradas obesas. Quanto o nível de estudo aumenta para 12 anos ou mais, o índice de sobrepeso cai para 35% e o de obesidade para 11%.
Alexandre Beanes não chega a ser considerado uma pessoa gorda. Mas sabe que está acima do peso. “Sempre fui gordinho, mas depois de uma reeducação alimentar e de exercício físico, cheguei a pesar 76 kg. Hoje em dia estou com 94 kg, mas quero chegar aos 82 kg, que é como me sinto bem.”
O levantamento revela que o sobrepeso é maior entre a população masculina. Mais da metade dos homens – 52,6% – está acima do peso ideal, enquanto 44,7% das mulheres apresenta sobrepeso.
O designer reconhece que a falta de exercício é o principal motivo de estar acima do peso. “Quando malho todos os dias é bom porque perco peso fácil. Fazer exercício apenas um dia na semana não surte efeito em mim. É preciso ir todos os dias, senão engordo”, explicou.
Quando consegue sair no horário do almoço, ele malha em uma academia próxima ao trabalho. “Só preciso de uma hora de exercício diário, mas não é sempre que consigo ir por conta dos compromissos”, revela.
Há três semanas no apartamento recém-adquirido, que possui uma academia de ginástica no playground, ele conta que não há mais desculpas para faltar à malhação. “Ter uma academia no prédio facilita, porque eu não tenho mais desculpas para não fazer exercício.” Mesmo com a facilidade disposta em seu condomínio, não é sempre que Beanes consegue ir.
“Quando o conheci, eu pesava 6kg a mais. Hoje em dia estou com o peso ideal, 53kg. Entrei na academia para conseguir manter”, revela.
Refrigerante
Beanes conta que se alimenta bem durante o café da manhã e que durante o almoço, a salada é fundamental em seu prato. “O grande problema é que de noite sempre tem algum excesso. A noite sempre tem alguma coisa com creme de leite, macarrão com algum molho e doce. Além disso, bebo refrigerante todos os dias. Fico mais feliz quando tem refrigerante”, conclui.
Os dados do Ministério da Saúde indicam 29,8% dos brasileiros consomem refrigerantes pelo menos cinco vezes por semana. Por outro lado, apenas 20,2% ingere a quantidade recomendada pela Organização Mundial de Saúde de cinco ou mais porções por dia de frutas e hortaliças.
Especialistas
Segundo o endocrinologista Marcio Mancini, chefe do grupo de obesidade do Hospital das Clínicas, de São Paulo, a preocupação das mulheres de maior escolaridade com o peso já vem sendo relatada há pelo menos 20 anos no país -- em especial entre as moradoras de maior poder econômico do sudeste. A causa seria a inserção da mulher no mercado de trabalho.
“A mulher longe do ambiente doméstico fica menos exposta a situações que a levam a engordar. Em casa é ela quem prepara a comida, dá de comer às crianças,” afirma Mancini.
Já para o endocrinologista Walmir Coutinho, o acesso à informação é que faz as mulheres terem mais consciência dos problemas da obesidade.
“A maior escolaridade está ligada ao maior acesso a informação e a alimentação saudável. Mas isso não está funcionando nos homens," diz ele.
Segundo os dados da pesquisa do Ministério da Saúde, ao contrário das mulheres na mesma faixa, os homens com maior escolaridade tendem a ter um peso maior. O que, para Mancini, mostra que os homens brasileiros mais escolarizados ainda seguem uma tendência típica de países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. “Nos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha isso é exatamente o contrário. Quem é muito obeso? São as pessoas com baixo fator educacional,” afirma.
Não há uma explicação exata da causa dessa inversão entre os homens, segundo os médicos. Uma explicação, afirma Mancini, pode ser uma tendência de mudar a dieta para pior conforme se ganha mais dinheiro.
“A hora que a população com menor nível de informação começa a ter mais acesso econômico, ela aplica na alimentação de uma forma errada. Nos próximos anos o que vai acontecer no Brasil é que haverá o aumento da obesidade na população mais pobre e miserável”.
Já para Coutinho é difícil interpretar essa inversão de valores sem levar em conta fatores culturais e padrões de atividade física. “Homens que trabalham, comem mais fora de casa, estão mais sujeitos a comer de maneira menos saudável. Talvez isso seja algo a se considerar”.
(*Colaborou Camila Neumam, do G1, em São Paulo)
Fonte: G1-BAHIA