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sábado, 1 de fevereiro de 2020

Adolescente é torturado e esquartejado por facção ao visitar namorada

No Brasil não existe pena de morte, segundo a Constituição Federal brasileira. Em Salvador, porém, algumas facções criminosas fazem suas próprias leis. O adolescente Iuri Wanderson, de apenas 16 anos, foi uma das vítimas mais recentes dessa barbárie.

Nesta terça-feira (28/1), o garoto foi sentenciado à morte simplesmente porque colocou os pés em Jaguaripe, na região de Cajazeiras. A execução foi realizada por traficantes do Comando da Paz (CP), ao descobrirem que o rapaz era morador da Fazenda Grande do Retiro, área da rival Bonde do Maluco (BDM). Os dois grupos vivem uma guerra.

Iuri tinha ido ver a namorada quando foi sequestrado, torturado, morto e esquartejado. O corpo foi encontrado nesta quinta (29), em uma mata, numa espécie de cemitério clandestino. Após passar por perícia, somente na manhã desta sexta (31/1), os restos mortais dele foram liberados do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLRN) para ser enterrado. A cerimônia aconteceu por volta das 10h30, no cemitério Quinta dos Lázaros.
Devastados, parentes de Iuri contaram que o rapaz estava em Jaguaripe desde o dia 24, na casa de uma namorada, uma jovem de 20 anos.

“Ele sabia que lá é uma área dominada por uma outra facção, sabia dos riscos, mas ele gostava tanto dela. Não foi a primeira vez que ele foi lá“, disse um tio da vítima, que preferiu não se identificar.

Após o crime, a namorada de Iuri e a mãe da jovem abandonaram o imóvel onde moravam.

Segundo o tio, Iuri estava com a namorada quando um grupo de homens armados da região invadiu o local, por volta das 17h de terça. Ele correu, conseguiu pular o muro e, durante a fuga, ainda conseguiu enviar uma mensagem para o celular da mãe pedindo socorro.

“Ele enviou um áudio dizendo: ‘mãe, chama a polícia, eles querem me pegar, mãe’. Ela acionou um serviço de transporte de aplicativo, mas vários motoristas recusaram porque o local é perigoso”, lamentou o tio. 

Imagens
Iuri chegou a correr por alguns quilômetros, mas foi alcançado e arrastado para uma região de mata e executado. A notícia da morte dele não demorou muito de chegar à família. A mãe, que estava desesperada com o pedido de socorrido do filho, foi à 13ª Delegacia (Cajazeiras XI) em busca de ajuda. Enquanto conversava com o policial, o celular dela não parava de vibrar.
Quando abriu um aplicativo pelo qual recebia as mensagens de um número desconhecido, a mulher entrou em desespero. “Eram fotos e vídeos de Iuri. As primeiras fotos mostravam ele sentado na frente de uma porta, com olhar sério e ferimentos no joelho e braço, como se tivesse apanhado. Na segunda foto, ele aparece fazendo o sinal de uma facção rival (BDM) e dava para ver que ele foi obrigado a fazer o símbolo”, narra o tio.

Ele contou ainda que a mãe de Iuri começou a gritar quando viu um vídeo enviado por este mesmo número. “Nas imagens seguintes, ela começou a gritar na delegacia. Ela recebeu uma foto de Iuri logo quando morto e, depois, um vídeo dele já esquartejado. Foi terrível”, completou.
Na quarta-feira, agentes do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) foram até Jaguaripe e não encontraram a namorada de Iuri, nem a mãe dela. Em seguida, vasculham a mata e encontram um local idêntico ao mostrado nas fotos enviadas ao celular da mãe do rapaz.
“Os policiais disseram que havia umas dez covas e que Iuri estava em uma delas. Era um cemitério do grupo”, contou o tio do rapaz. Devido à complexidade do local, os restos mortais da vítima foram retirados no início da manhã de quinta pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT).
Equipes da 3ª Companhia Independente da PM (CIPM/Cajazeiras) foram até o local, isolaram a área e chamaram o Corpo de Bombeiros Militar e o Serviço de Investigação em Local de Crime (Silc), para realização da perícia e remoção do corpo. 

A reportagem também procurou a Polícia Civil, que informou por meio de nota que o crime é investigado por equipes da 2ª Delegacia de Homicídios (DH/Central). No documento, a pasta informa que apreenderam um outro adolescente, suspeito de envolvimento no caso, e o encaminharam para a Delegacia para o Adolescente Infrator (DAI). Outros suspeitos estão sendo investigados e a motivação está sendo apurada.