Sobre o pedido de retirada de peça íntima, a mulher diz que achou “estranho”. “Ele perguntou se eu poderia tirar a calcinha. Eu achei um pouco estranho e falei: ‘mas não dá só pra eu abaixar?’ Ele: ‘seria melhor se você tirasse’. Eu não duvidei. E eu tirei a calcinha. Ele apoiou a parte do lado da mão bem em cima da minha vagina e começou a tatuar”, contou ela. O caso teria ocorrido em 2016. A mulher conta que a sessão durou 4 horas, e que chegou a ser alertada por uma amiga. “(A amiga disse) ‘você foi claramente abusada.’ Aí eu: ‘não! Eu? Não! Não fui. Não fui, ele é famoso, nada a ver’. A gente não tá preparada. A gente não sabe o que é abuso ainda.” Ester Gavendo, diretora de uma associação que representa 30 mil estúdios de tatuagem no Brasil, alerta que, durante uma sessão de tatuagem como essa, a mulher não precisa tirar as roupas íntimas: “Pode-se baixar ela. E mesmo assim, colocar, ali, um tecido ou um pano para que proteja a intimidade do cliente.”
Mãe impedida de entrar na sala
Outra mulher que falou ao Fantástico diz ter sido impedida por Leandro de acompanhar a filha, então com 16 anos, durante uma sessão de tatuagem. A jovem também diz ter sido abusada. A mãe, que não quis se identificar e que já havia feito 10 tatuagens com Leandro, e levou a filha ao estúdio. “Ele não deixou eu subir com ela para lá. Mas como a gente tinha uma confiança. Eu falei: ‘não, tá tudo bem, tudo tranquilo’.” Na segunda sessão, a mãe diz que acompanhou a filha: “Ele colocou o braço dela nas pernas dele e ela falou que sentiu ele se masturbando com a mão dela. Eu estava junto. Pra você ver como ele é tão sutil. Do lado, eu não percebi.”
“Desses 100 relatos, o que me chamou a atenção é que quarenta foram especificamente sobre esse tatuador com dread, no estúdio Tattoo Reggae. Usava o nome Leleco ou Leandro. E aí diziam que era ele relatos pesados, com violências sexuais”, disse Duda ao Fantástico. Desde o dia 19 de março, 15 mulheres registram boletim de ocorrência contra o tatuador, que vai responder pelo crime de violação sexual mediante fraude. De acordo com a delegada Larissa Mascotte, da Polícia Civil de Minas Gerais, as provas contra o tatuador até agora são contundentes. “É considerado uma fraude porque ele se utilizou dessas manobras enganosas pra poder realizar esses atos libidinosos. As vítimas acreditavam que aquele comportamento, aquela posição, era necessário para a confecção do desenho e aí permitiriam aqueles toques as provas reunidas no inquérito policial até agora são contundentes. As vítimas tiveram versões uníssonas, coerentes”, diz a delegada.
Após reportagem do Fantástico, mais mulheres procuraram a Polícia Civil e a ativista Duda Salabert para denunciar o tatuador Leandro Caldeira Alves Pereira, de 44 anos, por assédio sexual. A ativista publicou em redes sociais, nesta segunda-feira (1º), novos relatos de abuso. O tatuador, que é dono de um estúdio na Savassi, bairro nobre de Belo Horizonte, se diz inocente. Leandro foi preso em Lagoa Santa, na Grande BH, no domingo (31), no mesmo dia em que a reportagem do Fantástico foi ao ar, e levado nesta manhã para o presídio. Ele teve a prisão decretada pela juíza Patrícia Santos Firmo, após pedido da Polícia Civil, e foi encontrado escondido na casa de amigos. Desde 19 de março, 15 mulheres registraram boletim de ocorrência contra o tatuador, que vai responder pelo crime de violação sexual mediante fraude. De acordo com a delegada Larissa Mascotte, responsável pela investigação, mais mulheres entraram em contato com a polícia e ao menos uma delas deve ser ouvida nesta segunda.
Assista a reportagem do Fantástico: