"Nunca tinha sentido essa dor antes, era muito forte. Ela não variava de intensidade, não diminuía em momento algum", contou ao UOL.
Após passar mal em casa, no bairro de Perus, zona oeste de São Paulo, Silva foi levado para um hospital na região de Caieiras, sendo atendido na emergência. Depois de realizar três eletrocardiogramas, um a cada 30 minutos, e com os resultados do exame de sangue em mãos, os médicos do hospital de Caieiras chegaram ao diagnóstico de infarto do miocárdio.
"Foi quando me transferiram para um hospital em Guarulhos. Fui direto para a UTI e refiz todos os exames e ainda fiz outros mais específicos. No dia 29, passei por um cateterismo e os médicos ficaram surpresos com a existência de alguns coágulos no meu coração. Eles chamam isso de 'trombose coronária'. O cardiologista chegou a me perguntar se eu consumia cocaína, então eu disse que não, que nunca tinha usado".
O analista então decidiu contar ao médico que fazia uso abusivo de energéticos misturados com bebidas alcoólicas aos finais de semana.
"Foi quando o médico descobriu a causa de tudo", afirma Silva. "Ele me disse que os energéticos são o principal vilão, os maiores causadores de coágulos no coração. Me deu uma bronca e fez um alerta para que eu nunca mais os tomasse".
De 4 a 5 litros de energético aos finais de semana
Silva lembra que se chocou com a revelação do médico. Afinal, ele diz que, apesar de tomar semanalmente altas doses da bebida há cerca de 11 anos, nunca passou mal a ponto de ser atendido em um hospital. Ele chegou a fazer um post nas redes sociais contando o que aconteceu e fazendo o alerta.
"Sou uma pessoa ativa, estou sempre praticando esportes, jogo bola toda semana. Eu sabia que energético fazia mal por acelerar o coração. Às vezes, depois de beber alguns copos, sentia umas dores no peito mas sempre passava. Quando a gente é jovem, não acredita que possa acontecer algo de ruim".
O analista revelou que chegava a tomar toda sexta, sábado e domingo, de 6 a 7 copos de 700 ml de energético por dia, misturado com uma porcentagem pequena de uísque ou vodca. Num único final de semana, seu consumo pessoal de energético podia chegar a 5 litros. Ele conta que esse se tornou um costume "normal" entre os jovens de sua idade e que fazia isso para poder "ter mais pique" para se divertir aos finais de semana. Hoje, após o segundo cateterismo e já se recuperando em casa, diz que nunca mais abusará da substância.
"A dor que eu senti eu não desejo para ninguém, nem para o meu pior inimigo", diz Silva. "Espero que tudo isso que aconteceu comigo sirva de lição, não só para mim, mas para vários outros jovens que bebem sem pensar no amanhã. Pela primeira vez eu pensei que não iria ver meu filho e minha esposa. Hoje ainda estou com pequenos coágulos em meu coração, mas eu creio que tomando os anticoagulantes eles vão sumir".
Especialista em cardioesporte, a cardiologista Nicolle Queiroz afirma que o consumo excessivo de energéticos é um perigo, pois pode elevar a pressão arterial, causar arritmia e, em casos severos como o de Silva, causar infarto. "Muitas pessoas podem ter uma predisposição à doenças cardiovasculares, e o energético vai agir como um indutor, um gatilho", alerta a médica.
Além disso, substâncias presentes nos energéticos, como a cafeína e a taurina, podem induzir o indivíduo ao vício. "A cafeína por si só já é uma substância altamente viciante. Os energéticos liberam hormônios estimulantes ligados ao prazer, que com certeza podem ser viciantes", avisa Nicolle.
Quando combinados à bebida alcoólica, os energéticos podem ser ainda mais perigosos. A combinação gera uma "briga interna" no organismo. Enquanto o álcool age como um depressor das funções neurais, os energéticos atuam liberando hormônios neuroestimulantes, como a noradrenalina e a adenalina. Por estimular efeitos contrários, a combinação álcool + energético provoca inflamação e retração dos vasos simultaneamente, de forma abrupta.
A médica alerta que os sintomas de ingestão excessiva de energéticos são os mesmos de uma pessoa que está infartando. Aperto ou dor no peito, no pescoço, nas costas ou nos braços, bem como fadiga, tontura, batimento cardíaco anormal e ansiedade.
"Já atendi pacientes na emergência em arritmia decorrente de bebida e energético, como já atendi também pacientes que desenvolveram arritmia pelo mau uso do energético, seja pelo uso diário, ou não", explica a cardiologista.
"Quando os pacientes chegam à emergência, infelizmente muitos vão a óbito, por mal súbito. O coração não aguenta esta bomba. Quando o paciente sobrevive, ele pode ter que se submeter a um tratamento contínuo de controle da pressão arterial", conclui.