Com malas, laudos e exames em mãos, os pais da menina Melyssa, de 3 anos, viajaram com a filha na noite desta sexta-feira (9) para os Estados Unidos para dar início ao tratamento do câncer raríssimo e agressivo que a menina tem que faz crescer um grande tumor no rosto da criança. A família, que mora em uma comunidade de Guarulhos, na Grande São Paulo, conseguiu gratuitamente a cirurgia em um hospital norte-americano, cerca de R$ 80 mil em uma vaquinha online e passagens aéreas para a viagem depois de uma campanha que mobilizou as redes sociais.
Um médico brasileiro que trabalha há anos nos Estados Unidos soube do caso de Melyssa, se interessou e entrou em contato com a família. Além da cirurgia, o hospital também ofereceu um apartamento para que eles se hospedem durante todo o tratamento da criança. A operação está marcada para 20 de dezembro, no hospital LSU Health Shreveport, em Louisiana. Os médicos são especialistas em tumores grandes e em pescoço e cabeça.
O pai de Melyssa, Manassés Braga, de 25 anos, trabalha no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo, e conseguiu uma licença para acompanhar a filha. Amigos de trabalho fizeram uma vaquinha e arrecadaram o dinheiro suficiente para comprar passagens para Manassés, a mãe, Caroline Braga, a menina Melyssa e o outro filho do casal.
A família de Melyssa descobriu o câncer em 2014. Durante uma brincadeira com a filha, os pais perceberam que o pescoço dela estava com um nódulo. Foram ao médico e, sem exames, receberam o diagnóstico de íngua e indicação de tratamento. Após idas e vindas ao pronto socorro do convênio, exames, tomografias e médicos especialistas, a mãe, levou a filha na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e lá foi constatado o tumor.
Tumor aumentou
A situação de Melyssa se agravou no último mês. O G1 visitou a família no início de novembro e nesse período o tumor aumentou muito, atingindo o lado esquerdo do rosto de Melyssa.
Ela não conseguia fechar a boca, porque o inchaço não permitia. Os pais também notaram mudança no comportamento da menina, que passou a se chamar de feia, não querer visitas de pessoas desconhecidas e ficar chorosa. “Essa foi a primeira vez que nós vimos a nossa filha assim. Até então, era só brincando, rindo, comendo as coisinhas que ela gosta. Essa foi a primeira vez que a gente percebeu a doença afetando a vidinha dela e a gente sente, não tem jeito”, conta Manassés.
Com o avanço da doença de Melyssa, os pais não conseguiram assimilar o que está por vir. “A gente prefere não pensar muito que é outro país, outra cultura. A gente prefere pensar que é um passeio, que a gente vai lá, tratar a Melyssa, voltar para a nossa vida”, diz a mãe Caroline.
“As pessoas falam que a gente não vai ter nada quando voltar. Vamos devolver a casa que é aluguel, os móveis que não estão em bom estado vão ser jogados fora, outras coisas vamos dar para algumas pessoas. Quando a gente voltar, vamos ter que recomeçar e reconstruir. Mas a gente nem consegue pensar nisso agora, a gente só quer pensar que Deus vai curar. Só penso no dia que ela fizer a cirurgia e o médico falar que ela está bem. A prioridade é a minha filha”, completa Caroline.
Ansioso pelo início o tratamento, Manassés afirma que o que ele mais quer é voltar com a filha e retomar a vida aqui no Brasil. "A gente está com pressa da rotina que a gente quer ter. Ver uma perua levando meus filhos para escola, coisa que nós nunca vivemos. A gente quer ter a rotina que muitas pessoas têm. Ver nossa filha brincar, correr, ter o rostinho perfeito, ir para a igreja. A gente tem vontade de viver isso e não ser só um sonho. Tirar esse peso da gente. É uma tortura vê-la desse jeito. Eu quero ver a minha filha bem, meus dois filhos brincando."
Diagnóstico
Em 2014, durante uma brincadeira com a filha, os pais de Melyssa perceberam que o pescoço dela estava com um nódulo. Foram ao médico e, sem exames, receberam o diagnóstico de íngua e indicação de tratamento. Após idas e vindas ao pronto socorro do convênio, exames, tomografias e médicos especialistas, a mãe, levou a filha na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e lá foi constatado o tumor.
Após uma semana internada, muitos exames feitos e o tumor ainda maior, iniciaram o tratamento com anti-hormônio, que durou cerca de dois meses. Sem o resultado esperado, deram sequência com quimioterapia durante três meses. Mas com a imunidade baixa, e pouco resultado, os médicos constaram que Mel não poderia receber mais sessões da medicação.
“A última que ela tomou foi em maio de 2015. Ela estava com imunidade zero, com os glóbulos brancos baixos. Ela foi internada duas semanas, porque o organismo dela não estava mais aguentando”, conta a mãe.
Cirurgia
Em uma conversa com o médico, a família soube que a quimioterapia não estava dando o resultado esperado, que Mel não aguentaria outros tratamentos e que os pais deveriam decidir se ela seria operada. “Eu perguntei se ela morreria fazendo ou não a cirurgia e ele disse que sim. Eu não acreditava, eu chorava”, lembra a mãe.
“Então, que não autorizava a cirurgia. Se fosse para ela morrer de qualquer jeito, que seja em casa, brincando, feliz, comendo. Ao meu ver de mãe, eu optei pela qualidade de vida dela. Melhor do que ela ficar até o último dia dentro de um hospital, sem comer, sem falar, debilitada”, lamenta.
O médico explicou para os pais que aquele era o momento de fazer a cirurgia, que depois não seria possível. “Eu procurei manter a calma, pensei, repensei, mas é uma decisão difícil”, conta o pai.
Melyssa brinca na casa onde a família mora, em Guarulhos (Foto: Gabriela Gonçalves/G1) Melyssa brinca na casa onde a família mora, em Guarulhos (Foto: Gabriela Gonçalves/G1)
Desde que os pais optaram por não operar Mel pouca coisa mudou. Embora o tumor tenha crescido ainda mais, eles garantem que a filha não sente dores, não toma remédios e está sempre brincando. “Ela é cheia de vida”, garante a mãe.
Segundo os pais, as maiores dificuldades de Mel é uma ferida que apareceu no rosto dela, depois que um vasinho estourou e a pele não conseguiu conter e a gengiva que tem sido forçada ainda mais para dentro, por causa do tumor. Essas complicações fizeram a família repensar a cirurgia.
“Minha filha está morrendo. Então agora eu quero tentar a operação. Ela está ruim agora, antes ela não estava assim. Ela está sofrendo agora, está difícil agora. Se, Deus o livre, ela falecer, eu posso dizer que eu operei quando ela já estava ruim, que ela viveu bastante. Ela viveu um ano e meio depois desse diagnóstico e com qualidade de vida, brincando. Um ano e meio para uma criança é muita coisa”, lamenta Caroline.
G1