De acordo com dados divulgados pela rede social, 26 milhões de usuários usaram o aplicativo que modificava automaticamente a foto de seus perfis, número que representa 1,8% das 1,4 bilhão de pessoas que entram pelo menos uma vez por mês no site (a empresa não divulga os números específicos do Brasil). Mas como se explica o sentimento de "todo mundo trocou a foto" que foi vigente no fim da semana passada?
Parte dessa explicação está na forma como funcionam os algoritmos criados por Mark Zuckerberg e sua equipe. A linha do tempo de todos os usuários é baseada em diversas premissas prestabelecidas pelo próprio Facebook – elas têm a ver com proximidade física, curtidas, amigos, assuntos preferidos e mais uma série de fatores, que podem enfatizar ou esconder postagens de certas pessoas ou sobre certos assuntos da sua rede social. A resposta de especialistas para a pergunta do parágrafo anterior, portanto, é: o mundo é maior que o teu quarto.
Outro fator que ajuda a explicar a sensação de onipresença das fotos com arco-íris para algumas pessoas é a escala de relevância que certas atividades têm dentro do Facebook: mudar a foto do perfil é uma das ações mais relevantes – se não a mais relevante – que um usuário pode praticar na rede social, explica a pesquisadora e professora da Universidade Católica de Pelotas Raquel Recuero.
Muito mais do que publicar uma foto, um texto ou compartilhar um link na sua timeline, mudar a foto de perfil é valorizado "horrores" pela rede social, nas palavras da especialista. Some-se a isso o fato de imagens com motivos solidários ganharem mais curtidas e comentários do que o normal – no caso das fotos com arco-íris, foram mais de 565 milhões de interações – e chega-se a uma possível explicação para o tsunami colorido. Nesse sentido, avalia Raquel, cobrir o rosto com um filtro de arco-íris pode ser considerado importante enquanto ativismo:
– A foto de perfil é pública por excelência, diferente de qualquer outro conteúdo. Mesmo quando todos os conteúdos são bloqueados, normalmente a foto de perfil ainda é visível. Nessa causa específica, o fato de as pessoas tomarem partido com essa foto é muito significativo, não se pode menosprezar – avalia.
Ação para entender a cabeça do usuário
No domingo, um estudioso do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) brincou em seu Facebook que aquilo era "provavelmente um experimento" de Zuckerberg, como já havia acontecido anteriormente – a rede social foi alvo de muitas críticas em meados do ano passado, quando admitiu ter manipulado a linha do tempo de usuários aleatórios para rastrear como publicações mais felizes ou mais tristes faziam com que os usuários que as lessem ficassem mais felizes ou mais tristes. William Nevius, um porta-voz do Facebook, disse à revista The Atlantic que dessa vez isso não acontecera.
– Todo mundo está vendo a mesma coisa – garantiu Nevius.
Ainda assim, é improvável pensar que a empresa não utilize todos os dados coletados nessa incrível ação de massa para entender ainda mais como funcionam seus usuários.
Fonte: Gustavo Foster e Felipe Martini (Zero Hora)